Sobre esta história de propósito...
Outro dia assisti uma palestra cujo título era “Marcas com propósito”.
A ideia defendida era de que o único propósito das empresas seria gerar lucro. Na visão da pessoa palestrante existem marcas que em nome deste propósito estão desviando o foco dos seus negócios, trabalhando no campo social como forma de tirar vantagem fazendo "o bem". As empresas deveriam perseguir lucro e ponto.
Fiquei surpresa… tanto pela antítese em relação ao tema proposto, quanto por ser um festival de inovação. No meu entendimento, nada mais conservador em uma empresa do que o foco exclusivamente financeiro.
Sim, lucro é o que todas as empresas perseguem, e assim deve ser pois é ele que permite a continuidade de qualquer negócio.
Mas já existem e aumenta a cada dia o número de organizações com um mindset diferente, pensando além do lucro.
E o motivo deste movimento passa muito além da nova onda do marketing, do branding, da publicidade e dos modelos teóricos que vemos aos milhares pela rede.
Quem faz este movimento são as pessoas, que estão evoluindo em pensamento e consciência há milhares de anos.
Frederic Laloux escreveu no livro “Reinventando as organizações”: “Cada vez que nós, como espécie, mudamos nossa forma de pensar sobre o mundo, acabamos criando tipos mais poderosos de organizações.”
E esta evolução de consciência da humanidade vem criando uma série de novos modelos de negócio.
Vivemos o alvorecer de negócios diferentes, com um entendimento ampliado do seu próprio significado. Marcas com clareza de sua essência, de seus valores, com culturas fortes que atraem as pessoas a se relacionarem com elas e consequentemente geram ótimos resultados.
São muitos os artigos e livros publicados nos últimos tempos que sinalizam este avanço.
No livro “Empresas humanizadas”, o autor Raj Sisódia, conta a surpresa que tiveram com os achados da pesquisa que resultou neste livro. O título inicial do trabalho era “Em busca da excelência do Marketing”, porém se depararam com empresas que gastavam menos em marketing do que seus pares mas alcançavam melhores resultados. Sisódia escreve:
“Imaginem a nossa surpresa quando completamos a análise, estas empresas superaram as S&P 500 por margens imensas, ao longo de horizontes de tempo de dez, cinco e três anos. Deram retorno de 1.026% para os investidores ao longo de 10 anos em comparação a 122% para o índice S&P 500”.
São muitas as razões históricas, econômicas e sociais que nos fizeram chegar neste estágio. Mas dois pontos são fundamentais para entendermos esta mudança na cultura empresarial.
Temos como pano de fundo o momento em que a idade média da população dos países mais desenvolvidos gira em torno de 40 anos. Nesta fase da vida, é comum as pessoas terem a sensação de que deveriam fazer mais do que servir apenas a si mesmos.
Ao mesmo tempo a geração millennial, que você certamente já ouviu falar, aqueles jovens conectados, questionadores, embaixadores da sustentabilidade e que priorizam a experiência em detrimento da posse, chega com força ao mercado. Um estudo da Delloitte mostra que até 2025 eles serão 75% da força de trabalho.
Estes são perfis de pessoas que vêm buscando um significado maior em suas vidas, querem mais do que apenas aumentar o estoque de coisas que possuem. E esta busca de sentido está mudando as expectativas no mercado e no local de trabalho.
Raj Sisódia diz: “A transição do querer material para o querer significado está em progresso em uma escala sem precedentes históricos — envolvendo centenas de milhões de pessoas — e pode, eventualmente, ser reconhecida como o princípio do desenvolvimento cultural da nossa era”.
Muitas organizações já estão trabalhando neste nível de consciência. Elas desenvolvem conexão emocional com todos seus stakeholders — clientes, colaboradores, fornecedores, parceiros comerciais, sociedade e acionistas. Elas gerem seus negócios criando valor emocional, social, cultural, intelectual, ecológico e, claro, financeiro.
Não é modismo, não é passageiro, não é por acaso que tanto se tem falado a palavra propósito e legado.
Pois existem cada vez mais pessoas que têm a coragem de criar negócios que desafiam o status quo. E são estas que farão diferença na nossa sociedade, que vão ajudar a construir um mundo mais cuidado, justo, inspirador e melhor de se viver.
E sim, estas empresas vão atrair os consumidores e sim, vão gerar lucro.
E quanto mais lucro, mais benefícios devolverão para as pessoas ao seu redor.
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DANIELA LOMPA NUNES
Especialista em branding e design e consultora para negócios conscientes
Co-fundadora da Cda Branding & Design for People
Fundadora da Purpous
Acredito que as marcas são vetores para construirmos um futuro melhor e mais inteligente para todos.
Os artigos apresentados e assinados não refletem necessariamente a opinião da CDA Design, mas demonstram a diversidade de ideias que respeitosamente defendemos.