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Consumo e culpa

Lidar com a culpa sempre foi um problema central para a humanidade, pois cada escolha implica uma renúncia, e não raras vezes escolhemos renunciando à nossa própria paz de espírito. O que é novo neste processo é que muitas decisões de consumo, aparentemente básicas, passaram a assumir uma relevância cada vez maior na cabeça de um grupo também crescente de pessoas.


Até não muito tempo atrás, o aquecimento global e o plástico nos oceanos eram pontos de um discurso distante e incômodo. Uma coisa com a qual sabíamos que teríamos de nos preocupar, mas não ainda, talvez não na nossa geração. Agora, chegamos a um ponto em que o planeta nos mostra que fomos longe demais: as consequências de décadas de consumo desenfreado e leviano já chegaram e, o que é pior, apresentaram a conta.

FOTO: PLASTIC SOUP FOUNDATION

Na introdução do livro A linguagem das coisas, Deyan Sudjic aponta que a compra de créditos de carbono reedita no século XXI a compra da indulgência, prática abandonada pela Igreja Católica logo após a Idade Média. Assim como o cristão do século XII comprava a remissão dos seus pecados, as empresas do século XXI se bonificam com a redução das emissões ou pagam mais caro por continuar poluindo. A compra de créditos de carbono já é uma prática regulamentada em muitos países que enxergaram a necessidade de impor alguns limites às industrias. As marcas tradicionais enxergam a regulação como um transtorno, mas algumas, mais conectadas, começam a enxergar as oportunidades que esta realidade cria.


Não é à toa que o dicionário Collins elegeu single-use como a “palavra do ano”. De acordo com a definição do próprio Collins, single-use (uso único) se refere a produtos, geralmente de plástico, que são feitos para serem usados ​​apenas uma vez antes do descarte. Também de acordo com o Collins, o uso da expressão aumentou quatro vezes de 2013 a 2018 com a crescente conscientização das pessoas sobre o problema do plástico.


De acordo com a The Economist, um em cada quatro norte-americanos entre 25 e 34 anos afirma ser vegano ou vegetariano. Isso só reforça que o consumo irresponsável está com os dias contados. Produzir menos lixo é uma responsabilidade de cada um, mas é evidente que as marcas não podem se isentar. Uma iniciativa que chama atenção é a plataforma Loop, que já funciona experimentalmente na França e nos Estados Unidos, compartilhada por marcas como Häagen-Dazs, Pantene, Oral-B, Gillette, Dove, Axe, Hellmann’s, entre outras. Na Loop, o consumidor faz compras de produtos em embalagens retornáveis através do site, paga também pelas embalagens e recebe tudo em casa. Ao terminar o uso, ele pode fazer uma nova compra ou simplesmente solicitar a retirada das embalagens.


De olho nos consumidores conscientes, a rede de supermercados holandesa Ekoplaza inaugurou em uma de suas lojas em Amsterdã o primeiro corredor sem plástico, com mais de 700 produtos plastic free. A ideia da rede é lançar corredores sem plástico em todas as suas 74 lojas.

FOTO: PLASTIC SOUP FOUNDATION

Quando olhamos para a indústria, uma correta escolha de materiais ou um redesenho de embalagem que produza menos lixo ou que possa ser reutilizada, serão um diferencial cada vez mais importante. Por exemplo, quando desenvolvemos o conceito da rede Authentic Feet, aqui na CDA, este olhar consciente nos levou a escolher materiais sustentáveis como o Ecobrick, que reveste as paredes da loja - um revestimento feito a partir de poliuretano reciclado, utilizando sobras industriais e resíduos coletados pós-consumo. Na época do consumo experiencial, as decisões triviais tomam cada vez menos tempo, mas é fundamental que não impliquem culpa ou preocupações futuras.

Muitas marcas passaram a olhar para esta questão, mas nem todas da maneira correta. Quando se fala de consciência ambiental, é fundamental olhar para as novas oportunidades de um modo crítico, pensando não no protagonismo da sua marca, mas na solução de um problema que é de todos nós. Antes de consumidores, stakeholders, empreendedores ou gestores de marca, somos humanos e habitamos o mesmo planeta.

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JOSÉ LUIS STRÖHER

Diretor de criação e produção gráfica, responde pelas áreas de comunicação no ponto de venda e branding da CDA.

Os artigos apresentados e assinados não refletem necessariamente a opinião da CDA Design, mas demonstram a diversidade de ideias que respeitosamente defendemos.

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