Será apenas coincidência ou uma tendência de expansão da consciência
“O mundo está cheio de coisas óbvias que ninguém, de forma alguma, observa.”
Sherlock Holmes (Arthur Conan Doyle)
Elementar ter aprendido com meu herói de infância essa lição que aplico na minha função de estrategista de marcas, na “tentativa” de antecipar tendências de comportamento na estruturação do pensamento estratégico que direciona o projeto suportado por essas análises. Olhar para dados, imagens, movimentos pessoais individuais e coletivos, expressões artísticas e populares com curiosidade, com conhecimento anterior, mas despido de qualquer preconceito é mais que função, é obrigação para todo aquele que se propõe à prática da projetação apoiada pelo trend hunting.
Diferentemente do cool hunter, figura central no mundo da moda, que indica o que será moda nas próximas coleções, ou não, o trend hunter guia sua pesquisa em busca de sinais que, mesmo ainda fracos, possam sinalizar uma possível tendência. Como diz o professor e pesquisador de tendências argentino, Laureano Mon: “Quando um sinal fraco é percebido uma só vez, ele é apenas uma novidade, quando é visto duas vezes, pode ser uma coincidência, mas, quando aparece três vezes, pode sugerir uma tendência”. Porém essa busca exige conhecimento, disciplina, treino, uma porção de sutileza e um tanto de ousadia e desprendimento.
“Os sinais estão falando, não percebemos, pois, não fomos ensinados a ouvi-los.”
Amy Webb (The Signals are Talking)
Na prática cotidiana da busca por sinais fracos que possam sinalizar tendências, obviedades também se somam ao composto, listas de preferências, a cor do Pantone do ano, e até mesmo a palavra do ano, eleita pelos tradicionais dicionários da língua inglesa Oxford e Collins podem nos sinalizar algo, afinal os sinais do futuro estão visíveis exatamente agora, basta olhar a nossa volta com olhos de ver.
Olhando com um mínimo de atenção para as eleitas palavras do ano em um período relativamente curto de apenas quatro anos, percebe-se sinais que podem ser coincidentes, mas que, pessoalmente, prefiro acreditar que se tornem tendência, e após, oxalá, um comportamento.
Foto: Oxford Dictionaries
Quando, em 2015, o dicionário Oxford elegeu como palavra do ano a figura do “emoji que chora de rir”, muitos linguistas consideraram uma afronta ao alfabeto. Isso queria nos dizer algo? No ano seguinte a mesma publicação elegeu “pós-verdade” como a palavra do ano. Esse termo se referia à questão das crenças pessoais terem mais peso que fatos.
Já em 2017, a palavra do ano segundo o Oxford foi “Youthquake”, termo criado por eles para nominar uma mudança cultural, política ou social significativa provocada pela ação ou a influência dos jovens, remetendo a um terremoto. Ainda em 2017, o dicionário Collins elegeu como palavra do ano o termo “fake news”, muito impactado pela campanha midiática de seu maior garoto-propaganda, o presidente norte-americano Donald “FEIQUENIUSSSS” Trump.
Foto: Memegenerator.net
Em 2018, ambas as publicações sinalizaram uma tendência, ou seria apenas uma coincidência, que apontava para a questão ambiental. Enquanto o Oxford elegeu “tóxico” palavra do ano, o Collins elegeu o termo “single use”, uma referência direta ao plástico de uso único, maior poluidor do nosso meio-ambiente na atualidade. No comunicado da escolha o dicionário Oxford afirmou: “Tóxico tem estado presente nas discussões sobre a saúde de nossas comunidades e do meio ambiente”. Um exemplo concreto disso foi a grande discussão em torno da toxicidade do plástico: o Dia Mundial do Meio Ambiente, organizado pela ONU em 2018, colocou o plástico de uso único como seu tema central.
Em 2019, o Collins já elegeu a sua palavra do ano, e ela soma uma tendência já percebida em 2017 (Youthquake) aos movimentos que iniciaram em 2018 e culminaram projetando a jovem sueca Greta Thunberg a expoente do movimento “Greve Climática”, termo eleito como palavra do ano.
Foto: Reuters
Mesmo não sendo um trend hunter, serei ousado, ou talvez somente um tolo esperançoso, de que nos próximos dias o dicionário Oxford publique a sua escolha de palavra do ano, e ela, assim como no Collins, aponte para a urgente mudança de comportamento necessária à manutenção do nosso ecossistema e consequentemente da vida na Terra.
Quer saber mais como projetar marcas e ambientes apoiado em tendências? Vem tomar um café aqui na CDA, eu garanto que a xícara não será descartável.
Nota do autor: No dia da publicação deste artigo o dicionário Oxford escolheu a palavra do ano 2019, e a escolhida foi “Emergência Climática”! Começo a acreditar que estamos nos direcionando para uma sociedade realmente mais consciente.
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RICARDO LOMPA NUNES
Brand Strategist e Coordenador de Marketing da CDA.
Os artigos apresentados e assinados não refletem necessariamente a opinião da CDA Design, mas demonstram a diversidade de ideias que respeitosamente defendemos.