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O amanhã dos ambientes de trabalho e de compras


Embora extensamente já escrito e discutido em todas as mídias possíveis ultimamente, podemos ter certeza de que a nossa relação com os espaços e ambientes de trabalho e de compras irá se transformar muito com o advento da pandemia de Covid-19.

Particularmente, tenho lido e pesquisado bastante sobre os dois temas, com os quais como designer e construtor tenho atuado há mais de vinte anos.

A necessidade, ou recomendação que seja, de que todos nós permaneçamos o maior tempo possível dentro de nossas casas, ou mesmo isolados ao máximo do convívio social para trabalharmos, nos colocou decididamente “nas mãos” do trabalho e comunicação on-line.

A expressão home office provavelmente nunca foi tão falada entre todos, e é mais um anglicismo a ganhar notoriedade. Hoje, quase todo mundo está em “rômi ófice” no Brasil.

Obviamente que nosso apego à internet e a necessidade dela facilitou em muito esta migração quase instantânea para nossos novos postos de trabalho, seja num “office at home”, e mais ainda, copas, corredores, lavabos e outros espaços antes ocupados eventualmente para o trabalho remoto se tornaram de certo modo permanentes.

Pelo fato de várias reuniões, webmeetings, os tais calls, serem feitos com vídeo, estes espaços também precisaram ser “arrumados ou decorados” de modo a tornar o mais profissional possível o background da tela como um todo. Recentemente a celebrada revista The New Yorker publicou um artigo sobre as gafes e confusões via Zoom, a mais usada das plataformas de webmeeting atualmente.

As gerações mais recentes, em principal os Millenials, e dentre estes os ditos “digital nomads”, já começaram suas vidas profissionais até mesmo corporativas a partir e um trabalho remoto, sem local fixo, com a internet sendo parte de seu “hiper corpo”, web, e até mesmo nas redes sociais.

E o que se nota com clareza, passadas já semanas de trabalho remoto, em casa, é que, sim, todas as gerações e uma gama imensa de serviços e profissionais conseguiram se adaptar rapidamente e com eficiência a esta situação. Serviços nunca antes colocados a um tipo de prova como esta se saíram muito bem, como aulas de ginástica, e até mesmo yoga ou fisioterapia, com classes ministradas por vídeo.

Foto: Christina Assi_AFP

Como o trabalho “convencional”, em espaços conhecidos como escritórios, vai ser retomado a pleno é a grande dúvida deste tema no momento. Primeiro, pela própria questão sanitária, que vai exigir que isso ocorra aos poucos. Segundo, pelo próprio comportamento das pessoas em se aproximar e conviver novamente com seus pares, líderes e liderados em um mesmo ambiente.

Por questões sanitárias, muitas instalações precisarão ser adequadas: sistemas de ar-condicionado, exaustores, evaporadores, materiais que sejam propícios e fáceis de serem higienizados. Projetos de instalações específicos terão de ser desenvolvidos.

Mas, acima de tudo, entendo que a maior mudança deverá ser percebida na parte física dos ambientes e espaços de trabalho.

Hoje claramente se percebeu que não só o trabalho remoto em home office pode ser eficiente, como, mais ainda, confortável, como também produtivo. Ou seja, isso afetará as relações laborais fortemente, tanto na legalidade contratual quanto nos horários e encontros para tal.

Por certo que será necessário que os espaços profissionais e corporativos de trabalho precisarão serem cada vez mais pensados (ou repensados) como uma extensão do lar. Em seu projeto, em sua estética, seu conforto.

Quanto à dimensão e aos usos dos escritórios, laboratórios, salas de reunião, entre outros tantos ambientes, já se pensa que serão direcionados e desenhados especificamente como locais de “encontro e troca”. Espaços onde a agenda e a pauta poderão ser definidas com antecedência e as pessoas se reunirão ou terão uma agenda mais flexível e mesclada com sua agenda de trabalho remota, seja em casa, seja num café, seja onde estiver e tiver conexão com a internet.

E isso terá um impacto muito grande em como estes ambientes são pensados hoje, e também de como as empresas, das menores às maiores corporações, irão tratar seus custos de aluguel ou passivo patrimonial, se esta necessidade se alterar neste sentido.

Com isso também se vislumbram oportunidades enormes para a criatividade e soluções de projeto, reforma e readequação de vários destes ambientes. Provavelmente, o retrofit de espaços será um tema forte em pauta.

Quanto ao que se pode vislumbrar em relação ao comportamento de compra, bem como o reflexo deste nos espaços respectivos – lojas, supermercados entre outros espaços de varejo – é fácil imaginar que as restrições necessárias e geradas pela pandemia indicam que o comércio virtual irá ganhar mais peso ainda do que já tinha normalmente em nossas vidas.

Sabemos que tudo – ou quase – pode ser comprado via internet e entregue onde for solicitado. De um livro a um carro, passando por nossas necessidades básicas de alimentação e higiene, bem como serviços e entretenimento.

Mas a experiência de ficarmos o máximo confinados ao lar e necessitarmos optar e achar alternativas, principalmente para o que é imediato, o que é urgente e o que realmente não pode faltar.

Os sites de compra estão cada vez mais poderosos, diversos e eficientes.

Mas, assim como em nossos espaços de trabalho, os espaços de compra – ou de venda, se preferirem – necessitarão passar por uma reinvenção em suas dimensões, em seu mix, em seu propósito. Se já vínhamos projetando lojas para serem muito mais espaços de experiência, acredito que estes agora serão redesenhados para as experiências de relacionamento social, acima de tudo.

Provavelmente as dimensões passem a ser menores, os grandes “magazines” sejam cada vez mais pautados pela grade vertical do que horizontal em sua linha de produtos. Em lojas de roupa, como se comportarão os clientes no uso dos provadores, ou melhor, como serão as regras de provação dos produtos. Ainda não temos certeza. Mas regras sanitárias que evitem ao máximo o contágio e a transmissão de doenças deverão ser aplicadas.

Mas aqui novamente a criatividade terá uma nova oportunidade. Arquitetos, designers, engenheiros e toda a sorte de profissionais envolvidos no pensar e administrar os ambientes de compra terão que se reinventar.

Como escrito no início, somos seres gregários, sabemos que iremos novamente às ruas, e com certeza retornaremos o mais rápido possível à normalidade (ou a uma nova, que vamos experimentar ainda).

O quão gradual será este retorno dependerá muito de nosso receio e das regras aplicadas a cada local.

Vamos aproveitar que um dos grandes reflexos de nosso distanciamento social tem sido o esvaziamento do trânsito em nossas ruas e avenidas. Que isso possa também nos levar a repensar e nos adaptar mais ainda às nossas alternativas de movimentação dentro das cidades.

Com automóveis cada vez mais “inteligentes”, oferecendo tecnologias sustentáveis, e opções de uso, podemos entender de uma vez que é melhor contarmos com distintas alternativas de mobilidade, fazendo de nosso deslocamento entre nossa casa e nossos destinos – e vice-versa – o mais agradável, rápido e necessário, e menos agressivo a todos.

O que desejamos e esperamos é que a maior lição tirada desta pandemia seja que a diversidade, a solidariedade e o pensar no próximo sejam aplicados diariamente em todas nossas ações: de dentro de nossa casa com nossos familiares aos colegas de trabalho e às pessoas em nossa volta como um todo.

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ALEXANDRE BURMEISTER

Arquiteto e Designer responsável pela CDA Gerenciamento.

Os artigos apresentados e assinados não refletem necessariamente a opinião da CDA Design, mas demonstram a diversidade de ideias que respeitosamente defendemos.

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